Você sabia? Parasitas podem controlar o comportamento de seus hospedeiros!
Você já deve ter ouvido falar ou conhece alguém que já teve ou tem toxoplasmose, certo? Pois é, essa doença é causada por um parasita intracelular obrigatório chamado Toxoplasma gondii. Recentes estudos têm mostrado que ele é capaz de modificar o comportamento dos seus hospedeiros para facilitar a sua transmissão. Está imaginando como isso acontece?
Então, o que os estudos têm visto é que os roedores (que são os principais animais infectados por esse parasita), quando infectados com o T. gondii, perdem o medo do seu predador principal, o gato. Olha, que ousadia!
Esses estudos verificaram que roedores infectados em vez de se afastarem de urina de gato, por exemplo, iam ao encontro dela, o que os tornariam presa fácil para gatinhos famintos. Esse fato se torna ainda mais espetacular porque os gatos são os únicos animais em que os gametas femininos do T. gondii conseguem ser fecundados pelos gametas masculinos. Mas, a pergunta que fica é: – Como um mero parasita tem esse poder sobre um roedor?
Mistério! Porém, um passo inicial para a explicação desse fenômeno foi dado alguns anos atrás por um grupo de cientistas que descobriram que o T. gondii é capaz de alterar a produção de dopamina no cérebro, um mensageiro químico essencial envolvido no movimento, cognição e comportamento. Agora, outro grupo de cientistas pode ter descoberto uma outra pista, já que identificaram alterações, desconhecidas até então, que ocorrem dentro de algumas células do cérebro que poderiam ser responsáveis por essa, digamos, “hipnose”. Esse estudo foi publicado, este mês, na revista americana PLoS ONE. Segundo ele, os resultados sugerem que o T. gondii, que pode infectar qualquer animal de sangue quente, se adaptou em aumentar a sua transmissão dos roedores para os gatos, induzindo nos roedores infectados reações mais lentas aos estímulos do ambiente, maior movimentação (para que pudessem ser vistos pelos gatos) e maior dificuldade de aprender coisas novas. E você achando que parasita era um ser passivo, né?
Bom, resultado: o T. gondii favorece que os roedores infectados sejam predados pelos gatos, fazendo com que seu ciclo de vida seja completado mais facilmente.
Mais estudos ainda são necessários, mas o que já se sabe é que o T. godii provoca a modificação química de algumas moléculas utilizadas pelas células do cérebro durante o metabolismo cerebral, mudando sua função e localização, e isso pode gerar as alterações comportamentais vistas nos roedores.
Isso tudo se torna ainda mais interessante porque a toxoplasmose é uma das doenças parasitárias mais comuns entre os humanos, haja vista a proximidade que os humanos têm com os gatos. E, assim, a infecção dos humanos pelo T. gondii pode explicar, pelo menos em parte, algumas das várias alterações comportamentais vistas nos humanos, as quais, convenhamos, são muitas!
Professor Rafael