Patrimônio arqueológico e as ações do grupo extremista Estado Islâmico (EI)
Olá, pessoal! Vamos iniciar nossa conversa com uma apresentação breve… Você conhece a dona Geografia?
Ela, por essência, caminha ao lado de outras ciências, devido à sua interdisciplinaridade. Um dos campos do conhecimento que, em alguns momentos, se sobrepõe à ciência geográfica é a dona Arqueologia. O objeto de estudo desta senhora é a cultura material, ou seja, cultura física das sociedades humanas. E os vestígios dessas sociedades, como sabemos, estão em todo espaço. Se lembrarmos que a Geografia estuda a relação entre homem e natureza, no tempo e no espaço, uma ciência complementa a outra. Que bela amizade!
Você já deve ter visto filmes em que descobertas arqueológicas são feitas. Através dos vestígios encontrados, é possível saber e entender o espaço de uma sociedade em uma determinada época, como ele era usado, suas relações sociais, como se davam suas interações com a natureza. E, para a construção de uma pesquisa arqueológica assim, é preciso conhecer a Geografia.
Bom, agora vamos a mais apresentações… Aí nas imagens, você pode ver os sítios arqueológicos de Hatra, distante 110 km de Mosul, e Nimrud, localizados no norte do Iraque, próximo da fronteira com a Síria (Figura 1 e Figura 2). Hatra (- Olá, muito prazer!) foi fundada pelo império parta há cerca de dois mil anos e reconhecida como patrimônio histórico da humanidade pela UNO. As ruínas da cidade de Nimrud representam a antiga capital do império assírio, que foi fundada no século 13 a.C.
Figura 1 – Localização da área que abrange as cidades de Mosul e Nimrud – quadrado vermelho. (Fonte: ArcGIS Online, 2015)
Esses sítios representam séculos de história (olha, que responsabilidade!) e possuíam vestígios e artefatos que correspondiam aos impérios Assírio e Acadiano. Para muitos especialistas, esse conjunto de dados é um registro físico do local de nascimento da civilização humana. (Isso mesmo! Acredita-se que os primeiros humanos viviam ali, sabia?) A localização desses valiosos registros históricos – e por que não geográficos também? – estão localizados em uma zona de intensos conflitos que, desde meados do ano passado, está sob controle de um grupo extremista chamado Estado Islâmico (EI). (Já conhecia? Não é tão prazerosa essa apresentação. Afinal, trata-se de um grupo extremista e violento.)
Como se não bastasse toda a questão de imposição de uma doutrina religiosa nos locais em que esse grupo atua, por meio de força e violência, nas últimas semanas, uma “limpeza cultural” – por meio da destruição de estátuas, artefatos, queima de livros e manuscritos históricos e depredação das ruínas de sítios arqueológicos – tem sido realizada pelo EI.
A justificativa deles é que estátuas são utilizadas para adoração de falsos deuses, fazendo uma alusão ao profeta Muhammad na ocasião em que ele destruiu imagens em Mecca. No entanto, muitos desses objetos possuem um grande valor, se vendidos no mercado negro. Na cidade de Hatra, por exemplo, muitos pontos armazenavam ouro e prata, que os extremistas não deixaram para trás. Além de outras fontes utilizadas pelo grupo, a venda dos artefatos no mercado negro se tornou uma fonte de renda, aumentando seu poder aquisitivo, consequentemente bélico também. Em outras palavras, a destruição de um patrimônio se tornou uma estratégia para financiar a guerra deles.
Figura 2 – Localização do sítio arqueológico de Nimrud, a 30 km de Mosul, Iraque. Adapatado de: BBC, 2015.
Depois de conhecer tudo isso, você já é capaz de refletir sobre o que a imposição de uma forma de pensar sobre outras pode acarretar. Pensar como a sociedade se relacionava com seu ambiente, suas relações sociais, com a natureza, permite entender os processos que nos levaram à sociedade atual e perceber se tais relações se mantiveram ou não. Porém, não respeitar a senhora História e a dona Geografia de uma determinada sociedade, destruir um patrimônio carregado de memória e ainda usar a violência como meio de impor um pensamento, mata a herança cultural e não permite o pleno desenvolvimento da sociedade. Não é mesmo?
Logo teremos mais encontros com a dona Geografia. Foi um prazer!
Professora Breylla